Julho 22, 2025

SÉRIE AS ‘MINAS’ DO CHEGA: (1) Novo Banco, um poço sem fundo



Há fundamentalmente duas teses para explicar o sucesso eleitoral do Chega: a tese da “escumalha”, designação gratuita e ofensiva para 1,4 milhões de eleitores supostamente manipulados e hostis aos valores da democracia; e a tese do ressentimento e da frustração contra as nossas elites pretensamente predadoras e amorais. Ambas as teses são simplistas e desresponsabilizadoras. 

Em Portugal a direita radical tem ganhado terreno - e vai continuar a ganhar - graças à incompetência e à falta de respeito dos nossos governantes pelos valores de uma sociedade verdadeiramente republicana e democrática. Eu chamo-lhes as minas do Chega. Se os votos são ouro para quem quer o poder, há vários exemplos de verdadeiras minas de ouro para o Chega. 

Comecemos pela ‘mina’ Novo Banco. 

É o exemplo mais flagrante de desvio de recursos públicos para um setor que na última década parece ter adoptado o consabido lema ‘custos para os contribuintes, lucros para os acionistas’. Com a honrosa exceção da Caixa Geral de Depósitos, por sinal pública, o setor bancário não cessou ainda de fazer aumentar a fatura para os contribuintes. 

O Novo Banco (NB) - que, lembre-se, era o chamado ‘BES bom’ - já custou cerca de 10 mil milhões aos contribuintes portugueses. Está tudo muito bem explicadinho no relatório da auditoria feita pelo Tribunal de Contas, na relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito e até nas contas anuais do Fundo de Resolução. 

Soube-se na passada sexta-feira que o NB vai ser vendido ao grupo financeiro francês BCPE por 6,4 mil milhões de euros. Destes, 4,8 mil milhões caberão ao acionista Lone Star, que detém 75% do banco. Os restantes 1,6 milhões serão arrecadado pelo Estado diretamente (Tesouro) ou indiretamente (Fundo de Resolução), posto ambos deterem 25% das ações do NB. 

Tanto bastou para que o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, viesse esclarecer o povo de que o Estado iria “recuperar quase 2 mil milhões de euros” injetados no NB. Talvez. Mas o que o ministro não disse é que os contribuintes, que já suportaram 10 ‘bis’ (cerca de €1.000 por cada português), poderão ter ainda de pagar quase todas as indemnizações em que vier a ser condenado o ‘BES mau’ nas centenas de processos judiciais e arbitrais pendentes. Tudo previsto, aparentemente, no contato assinado com a Lone Star. Que é secreto! Como nas mais desenvolvidas democracias…

Leia o artigo, na íntegra, aqui.

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